O tempo não avisa. Ele apenas acontece. Não pede licença para passar, nem desculpas por levar. Ele escorre entre os dedos mesmo quando juramos estar atentos.

O Tempo

O tempo não avisa. Ele apenas acontece.

Não pede licença para passar, nem desculpas por levar.
Ele escorre entre os dedos mesmo quando juramos estar atentos.

O tempo não tem rosto, mas esculpe o nosso com dedos invisíveis.
Não tem voz, mas silencia.
Não tem forma, mas molda tudo o que existe.

Ele é o intervalo entre o primeiro choro e o último suspiro.
É o que existe entre o olhar e o adeus, entre o abraço e o vazio.

O tempo é generoso com os distraídos, dá-lhes a ilusão de permanência. Mas aos despertos, revela a sua real natureza, um sopro, um lampejo, uma dança breve entre o que foi e o que jamais será outra vez.

O tempo cura, sim. Mas também corrói, caleja e ensina.
Constrói memórias enquanto desbota as cores.
Une destinos enquanto afasta mãos.
Nos ensina enquanto apaga o quadro.
É professor.

Ele não é inimigo nem aliado.
É apenas o que é.
E é tudo.

O tempo nos lembra que nada é garantido, que tudo o que temos é o agora.
Este momento.
Este instante que já se foi.
E este, também.

É por isso que o tempo exige presença.
Não no relógio, mas na alma.
Estar inteiro onde se está.

Sentir sem pressa.
Amar sem ensaio.
Ouvir com o corpo.
Ver com o coração.

Porque um dia, mesmo sem termos percebido, será tarde demais.

E o tempo, implacável e silencioso, terá ido…
Como tudo…

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